"A língua inglesa tem o monopólio linguístico no mundo, já é uma língua planetária e, enquanto Espanha e França mantêm fortes políticas de protecionismo linguístico, a Itália preferiu adequar-se a todos estes novos termos de mercado", disse à Agência Efe o lingüista da Universidade de Salerno, Sergio Lubello.
Entre a mitologia do inglês e o provincianismo de muitos italianos, que pensam que dominar o inglês é dizer quatro palavras nesse idioma, "a língua anglo-saxã se instala perfeitamente na Itália, que, por sua vez, carece de políticas culturais e linguísticas", completa Lubello.
![]() |
Fonte: Exame |
O estranho é que os italianos ainda utilizam termos de origem latina, como "escalation", "database", na língua de Shakespeare. No entanto, essas palavras são procedentes do latim, essencial na formação da identidade europeia ocidental e na criação de grandes línguas nacionais, incluindo o italiano.
Mais surpreende ainda é que em um país nacionalista como a Itália, onde sua bandeira é estampada até nas meias soquetes e sua presença em um produto alimentício ou têxtil é garantia de qualidade, exista um Ministério de Welfare (Bem-estar), sem falar do "Election Day" (Dia de Eleições) e suas "exit poll", as famosas pesquisas de boca de urna.
Embora alguns linguistas estejam convencidos que esses anglicismos desaparecerão da mesma forma que surgiu, a maltratada Accademia della Crusca (Academia de letras italiana), com sede em Florença e ameaçada "por falta de fundos", levanta sua voz - em italiano, é claro.
Isso porque, a decisão de uma das prestigiadas faculdades politécnicas de Milão, de apresentar cursos de pós-graduação e de doutorado em pesquisa técnico-científica exclusivamente em inglês a partir de 2014, acabou sendo muito criticada pelos lingüistas italianos.
Segundo o vice-presidente da Academia da Crusca, Luca Serianni, se esta faculdade politécnica realizar seu projeto, a língua italiana perderá uma parte importante de si mesma, além da possibilidade de se expressar no âmbito técnico.
O filósofo Tullio Gregory também reprovou esse plano recentemente nas páginas do jornal "Corriere della Sera": "Impor o inglês não nos faz mais modernos e nem mais produtivos. Ao contrário, danifica a cultura humanística e científica".
Contudo, o ministro da Educação, o engenheiro Francesco Profumo, sustenta que apresentar aulas, exclusivamente em inglês, "aumenta as aptidões dos graduados italianos e também atrai estudantes vindos do exterior".
Emanuele Banfi, presidente da Sociedade de Linguística Italiana, defende um "bilingüismo virtuoso que favoreça os conteúdos, sua divulgação e a formação completa dos estudantes, italianos e estrangeiros", como afirmou em um discurso na Crusca no final de abril.
Enquanto lingüistas, filósofos e políticos se perdem em discussões sobre o futuro do idioma italiano, um alto-falante de um ginásio do bairro de Roma anuncia: "Marquem o "chek up" (revisão) médico na "reception" (recepção) do clube".
Fonte: Exame
Nenhum comentário:
Postar um comentário